Entrevista com Dayton Ward, autor de mais de 40 obras do universo de Star Trek
Dayton Ward é um autor de renome e um verdadeiro ícone no universo de Star Trek. Nascido em Tampa, Flórida, em 7 de junho de 1967, Dayton serviu no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos por quase onze anos antes de se dedicar à carreira de escritor e desenvolvedor de software. Atualmente, ele reside em Kansas City, Missouri, com sua família. Ao longo de sua impressionante trajetória, Dayton se tornou um autor best-seller do New York Times, com mais de quarenta romances e novelas, muitas vezes escritos em colaboração com seu grande amigo Kevin Dilmore.
Além de sua extensa produção literária para Star Trek, incluindo obras como Starfleet Corps of Engineers, Dayton também escreveu dois livros de referência sobre o universo Trek para a Insight Editions e contribuiu com artigos e contos para revistas e sites de prestígio, como Star Trek Magazine, Tor.com, Syfy.com, e StarTrek.com.
Ao longo de sua carreira, Dayton foi indicado seis vezes ao prêmio Scribe, vencendo em duas ocasiões: em 2016, com Armageddon’s Arrow, e em 2019, com Drastic Measures. Seu trabalho é celebrado por fãs e críticos, não apenas por sua habilidade em criar histórias envolventes, mas também por sua capacidade de capturar a essência de Star Trek, levando os leitores a novas e emocionantes aventuras.
Confira a entrevista que fiz com o autor.
Dayton, é uma grande honra poder entrevistá-lo, tendo em vista que sou um fã de longa data. Para iniciar, eu gostaria de perguntar como Star Trek entrou na sua vida.
Muito obrigado por suas palavras gentis! Star Trek e eu somos amigos de longa data. Quando criança, no início e meados dos anos 1970, eu assistia às reprises da série original todos os dias depois da escola. Eu pude ver a maioria dos episódios da série animada durante sua transmissão original nas manhãs de sábado nesse mesmo período. Eu brincava com os brinquedos e montava os modelos, mas foi lendo os livros e quadrinhos que eu encontrava que meu amor pela série realmente se consolidou. Essas histórias, embora publicadas esporadicamente, ainda ajudavam a satisfazer minha vontade de mais aventuras com Kirk e sua equipe. Quando Star Trek: O Filme estreou nos cinemas em 1979, eu já era um Trekkie assumido. Mal sabia eu na época — quando eu tinha apenas 12 anos — como isso acabaria afetando minha vida.
Como sua experiência como fuzileiro naval influenciou sua abordagem à escrita, especialmente em histórias de ficção científica e de Star Trek?
Para Star Trek e as histórias de ficção científica militar que escrevi, gosto de pensar que minha experiência direta com essa cultura me ajuda a escrever personagens militares e situações com um grau de autenticidade. No caso de Star Trek, a Frota Estelar não é como um exército moderno, mas ainda assim incorpora certas qualidades e características da estrutura e cultura militar, então existem alguns paralelos óbvios. Não me refiro a escrever descrições precisas de armas ou batalhas, pois isso ainda exige pesquisa adequada e conhecimento para acertar esses detalhes. Em vez disso, tento canalizar minha própria experiência na forma como retrato os personagens — particularmente personagens de diferentes patentes e posições dentro de uma hierarquia militar ou pseudo-militar — e como eles se relacionam uns com os outros nesse ambiente.
Seus livros frequentemente exploram temas como história, conspirações e o impacto de eventos do passado no futuro. De onde vem o interesse por essas temáticas?
Não me considero um teórico da conspiração de forma alguma, mas frequentemente me divirto lendo livros ou assistindo a programas de TV que lidam com esses assuntos. Acho esse segmento da sociedade infinitamente fascinante. Algumas teorias da conspiração são completamente absurdas, mas outras possuem aspectos que fazem você se perguntar se podem ser verdade. É ao refletir sobre essas ideias que encontro ideias interessantes para histórias. O mesmo acontece com a história real. Certamente não sou um historiador erudito, mas as aulas de história sempre estiveram entre as minhas favoritas na escola, e estudar história militar continuou sendo uma exigência durante meus anos de serviço. Isso foi uma sorte, pois me vi lendo todos os tipos de livros e artigos que de outra forma teria perdido. É uma tendência que continuou mesmo depois de todos esses anos e até encontrou maneiras de se infiltrar nos livros relacionados à escrita que também leio. Por exemplo, atualmente estou lendo um livro sobre como a Primeira Guerra Mundial influenciou a evolução da escrita de terror (Wasteland: The Great War and the Origins of Modern Horror, de W. Scott Poole).
A interação com os fãs influencia ou inspira suas histórias?
Eles inspiram minhas histórias no sentido de que me mantenho ciente do dinheiro, esforço e tempo que as pessoas dedicam a ler o que escrevo. Isso é especialmente verdadeiro para os leitores de — por exemplo — minhas histórias de Star Trek. Quando se trata de propriedades da cultura pop e do entretenimento, Star Trek tem uma base de fãs muito dedicada e intensamente leal. Os fãs mais hardcore estão muito envolvidos em coisas como romances, quadrinhos, jogos e outros produtos. Tento nunca esquecer que tive o privilégio de contribuir para essa franquia por muito tempo, e espero que meu respeito por ela e por seus fãs ainda transpareça, mesmo depois de todos esses anos.
O que você sentiu ao escrever o primeiro livro de Star Trek: Coda, série que encerrou duas décadas de publicações de Star Trek?
Intimidador? Aterrorizante? De partir o coração? Tudo isso e tantas outras emoções. Foi uma experiência tremenda escrever não apenas meu próprio livro, mas também colaborar com os escritores James Swallow e David Mack para criar essa história. Trabalhar com esses dois cavalheiros — ambos a quem chamo de amigos e colegas de confiança há muitos anos — foi uma recompensa em si. Isso não significa que sempre começávamos em consenso. Houve várias discussões sobre vários pontos da trama, e em diferentes casos poderia ser um de nós tentando convencer os outros dois, ou dois de nós tentando persuadir o que estava em desacordo. Mesmo com tudo isso, cada coisa está onde está em todos os três livros porque nós três concordamos que era onde precisava estar. Sei que a trilogia gerou uma variedade de reações e respeito isso, mas espero que os leitores ainda entendam que levamos a tarefa de escrevê-la muito a sério. Também é o tipo de projeto que estou tranquilo em não tentar novamente tão cedo.
Quais são seus próximos projetos dentro e fora de Star Trek?
Tenho várias coisas em que estou trabalhando no momento, mas estamos naquele espaço estranho em que não posso falar sobre nenhuma delas porque ainda não foram anunciadas. Recentemente fiz alguns trabalhos para três jogos de RPG diferentes, incluindo um novo que se conecta à franquia Planeta dos Macacos. Segundo o último relatório, o jogo será lançado no início do próximo ano. Os outros projetos de jogos e minha participação ainda não foram anunciados, mas espero que em breve se tornem públicos. Escrevi uma história, “A Study in Vacuum,” para Multiverse of Mystery, uma coleção de contos que levam Sherlock Holmes e John Watson em novas e diferentes direções. Diferentes períodos de tempo, diferentes realidades, na Terra ou no espaço, inversão de gênero e raça, você escolhe. O jogo está em andamento… em todos os lugares e tempos! Essa antologia está prevista para ser lançada mais perto do final do ano.
Para finalizar, uma pergunta que faço a muitos autores do universo de Star Trek. O mercado editorial brasileiro tem negligenciado a publicação de obras de Star Trek, com o último lançamento ocorrido em 2016. Como grande parte dos leitores brasileiros não lê em inglês, o que você sugere que os fãs podem fazer para demonstrar o interesse na franquia no Brasil e a demanda de traduções para português dos romances tie-in deste universo?
Como outros que você entrevistou disseram, a chave é encontrar uma editora no Brasil disposta a assumir a tarefa de traduzir os romances de Star Trek para a língua apropriada. Sei que isso não é uma venda fácil, mas talvez entrar em contato com editoras brasileiras por meio de suas plataformas de mídia social e demonstrar interesse seja um primeiro passo? Provavelmente exigiria um pouco de pesquisa para determinar quais editoras poderiam ser apropriadas para assumir a tarefa, como aquelas que já publicam romances de ficção científica. Um engajamento cuidadoso e respeitoso com essas editoras poderia abrir um diálogo com elas? Elas provavelmente gostariam de saber o tamanho do fandom de Star Trek no Brasil, mas se puderem ser convencidas de que há um público para as obras de Star Trek traduzidas, quem sabe o que pode acontecer?